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07 DE AGOSTO DE 2020

Consultor defende economia solidária para combater a desigualdade


Dirval Cruz participou, nesta quinta-feira (6), de live no perfil no Instagram do programa Parlamento Aberto.



EM PIRACICABA (SP)  

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Dirval Cruz falou da necessidade de promover o desenvolvimento de capacidades que permitam às pessoas gerar renda por conta própria.





As disparidades sociais do País, decorrentes da desigual repartição de riquezas, bens e serviços, acumulados nas mãos de uma minoria, motivaram a criação de uma forma autônoma de gerir recursos que repensa a relação com o lucro, possibilita a emancipação de grupos excluídos do acesso aos meios de produção e transforma o trabalho em benefício para uma comunidade inteira -- e não apenas para uma parcela dela. Trata-se da economia solidária, um modo de produção que se caracteriza pela igualdade e pela autogestão. 

Ao vivo no Instagram do Parlamento Aberto, nesta quinta-feira (6), Dirval Cruz, consultor em economia solidária e orientador na criação da Respira (Rede de Economia Solidária de Piracicaba), falou sobre a necessidade de promover o desenvolvimento de capacidades que permitam às pessoas gerar renda por conta própria e, desta forma, sair da pobreza.

Para ele, a economia solidária deve ser encarada como um instrumento que, além de gerar poder econômico, constitui espaço de organização popular, capaz de transformar a realidade das pessoas. Possui em seu cerne a solidariedade e o questionamento do sistema capitalista. “A economia solidária pensa que é importante produzir para dividir e que todos tenham a mesma oportunidade de gerar seus recursos e a viver com dignidade”, explicou.

Embora sejam parecidas, as economias solidária e criativa têm objetivos diferentes. Enquanto, a criativa volta-se para a obtenção de meios de gerar renda através de atividades principalmente em áreas como cultura, artes e entretenimento, como o artesanato, a solidária vai além, englobando produção rural, pequenos agricultores e toda forma de trabalho não institucionalizada.

Lutando contra as desigualdades sociais e o desemprego, as alternativas solidárias não visam somente a produção, a comercialização e o lucro. Pretendem desenvolver, em todos os âmbitos, o território onde são praticadas. “O que almejamos é uma sociedade onde o coletivo se sobreponha ao individual e que as pessoas, por afinidade, se encontrem, produzam, troque saberes e sejam autossuficientes”, ressaltou.

No Brasil, uma das experiências mais importantes e emancipadoras, considerada berço e inspiração para o movimento, se situa no Conjunto Palmeiras, bairro da periferia de Fortaleza, no Ceará. Em 1998, desapropriados do local em que viviam há mais de 40 anos e transferidos para um lixão desativado, os moradores se articularam para a implementação de um banco comunitário como ferramenta para a geração de trabalho e renda.

Pioneiros na emissão de moeda social e fornecimento de microcrédito para a população de baixa renda, o banco faz transações financeiras, é fonte de crédito para o consumo e para a produção local, com juros quase nulos e sem burocracia.

‘A comunidade era vista pelo poder público como “causa perdida”, mas, por meio da economia solidária, a população foi capaz de reverter esse cenário. Eles perceberam que não eram pobres, mas, sim, empobrecidos pelo sistema. Hoje, o bairro é totalmente urbanizado, gera renda própria, possui grupos de cultura, institutos de formação e foram, por duas vezes, reconhecidos pela ONU (Organização das Nações Unidas)”, contou.

Outro exemplo de reversão da miséria por meio da economia solidária é o da cidade de Maricá, no Rio de Janeiro. “Uma região antes extremamente pobre e fadada à miséria, hoje consegue ser autônoma. Nota-se um progresso e um desenvolvimento territorial antes considerado quase impossível, mas realizável graças à economia solidária”, ressaltou.

Dirval Cruz lembrou, ainda, que no Nordeste, principalmente nas regiões semiáridas, antes da chegada da economia solidária, não havia esperança. Para sobreviver, as pessoas precisavam migrar para o Sudeste. “Esse instrumento solidário de gerar renda trouxe para as pessoas a perspectiva de desenvolvimento local. Passaram a produzir, comercializar e se desenvolver lá mesmo, criando, inclusive, fundos para reserva de água. A região se tornou autossustentável”, ponderou.  

Segundo ele, neste formato de economia instruíram-se três segmentos basilares: os empreendimentos, entidades de apoio, responsáveis por trazer capacitação e captar recursos, e os gestores públicos. “Infelizmente, nos locais onde é implantada a economia solidária, há pouca compreensão dos gestores que passam a ditar as normas e a burocratizar o processo, mas o segredo é justamente a liberdade de criação, respeitando, claro, os princípios legais”.

REDE RESPIRA – Dirval Cruz foi orientador da criação da Respira, rede municipal que aplica em sua produção os conceitos da economia solidária. “Conheci, na Casa do Hip Hop, um grupo de jovens que, de maneira informal, já produzia e comercializava dentro destes princípios. Houve, então, a partir de conversas, o interesse da parte deles em se organizarem e formarem uma rede de economia solidária”, contou.

Segundo ele, dizia-se na época, que jamais haveria esse tipo de atividade na cidade, por ela ser historicamente conservadora. “A acolhida, no entanto, foi grande, não só dos artesãos e agricultores familiares, como de toda a população”, contou.

“Piracicaba não é só a área nobre, a maior parte da população está na periferia. É essa população responsável pelo desenvolvimento do município, portanto, deve sentir orgulho daquilo que faz, ser acolhida e valorizada pelos gestores”, advertiu.

Ele alertou, ainda, que a economia solidária requer a superação da cultura individualista, o acesso ao crédito que viabilize os investimentos e promova o crescimento das redes; além de políticas públicas adequadas ao movimento, que não só apoie, mas que proporcione condições legais para a execução das iniciativas.

As experiências solidárias, que contemplam uma população até então excluída ao acesso aos meios de produção, torna-se mais importante ainda em um cenário de pandemia. “A produção e a comercialização no próprio bairro podem ser a porta de saída após a crise. A coletividade é capaz de resgatar as pessoas da situação de miséria”, refletiu.

INSTITUTO FUTURO SOLIDÁRIO - O instituto, que promove cursos e faz a incubação de empreendimentos solidários, e que está sob o comando de Dirval Cruz, surgiu, segundo ele, a partir da carência por esse tipo de formação. “Há uma vasta literatura e estudos acadêmicos sobre economia solidária, mas que não chegam a formar um curso. No instituto, aliamos à experiência nossa com o conhecimento acadêmico”, explicou.

Ele reiterou que a formação popular é tão importante quanto a formação acadêmica, uma vez que a maioria das pessoas é levada a crer que o sistema econômico atual é “algo que caiu do céu e é eterno”. “Não é. Há uma injustiça social muito grande e que deve ser corrigida pelas próprias pessoas. Não adianta esperarmos do poder público ou culpar determinados gestores. Os políticos giram de acordo com a roda”.

Para Cruz, a estrutura do estado é excludente e ela é quem deve ser combatida. “Precisamos mudar o mecanismo, a estrutura, mas só será possível através da educação popular. Nem mesmo a educação acadêmica resolve, é preciso educar as pessoas. A economia solidária vem para este fim, não para acumular riquezas, mas para garantir que toda a coletividade tenha acesso”, completou.

Aos que se interessarem pela inciativa, Dirval Cruz autorizou a divulgação do seu número de telefone. Para entrar em contato com ele, basta entrar em contato pelo (19) 98825-0949 ou no e-mail do Instituto Futuro Solidário: institutofsolidario@gmail.com.

ACESSE O CONTEÚDO
As lives do programa Parlamento Aberto são realizadas no perfil do Instagram, que pode ser acessado em @parlamento_aberto.

As entrevistas também podem ser acessadas no canal do YouTube do Departamento de Comunicação da Câmara de Vereadores de Piracicaba e, ainda, no podcast produzido pela Rádio Câmara Web.

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Texto:  Raquel Soares
Revisão:  Erich Vallim Vicente - MTB 40.337


Cidadania Emprego e Renda Parlamento Aberto

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