Reunião solene transcorrida na manhã de hoje (20), às 9h00, com transmissão ao vivo pela TV Câmara, canal 08 da Net, e pela Internet, no site www.camarapiracicaba.sp.gov.br, salão nobre "Prof. Helly de Campos Melges", conforme iniciativa do presidente de Câmara, vereador João Manoel dos Santos (PTB) homenageou cinco cidadãos, por ocasião da semana da Consciência Negra (20 a 27 de novembro), em destaca a personalidades com trabalhos relevantes durante o ano. As homenagens também marcam em Piracicaba o Dia Nacional da Consciência Negra, feriado municipal (20), em reverência ao grande líder democrático, Zumbi dos Palmares, que em pleno regime de escravidão no Brasil, século XVI, sonhou com uma sociedade verdadeiramente democrárica, onde negros, índios e brancos se irmanavam nos ideais de uma socieadade igualitária. 

O representante do prefeito municipal, Barjas Negri (PSDB), José Maria Cassaniga, atual diretor do Teatro Municipal Dr. Losso Netto, ocupou a tribuna de honra para externar a preocupação do Executivo na consideração com a comunidadade negra local.

O presidente do Centro de Documentação, Cultura e Política Negra de Piracicaba, Jurandir Silvestre ressaltou a importância na comemoração de um dia voltado ao despertar da consciência negra. Lembrou dos problemas que a comunidade negra ainda enfrenta frente ao avanço do capital, que tira o direito das pessoas se reunirem em família. "Muitos de nós estamos trabalhando no dia de hoje sem saber o porquê". Jurandir também lembrou da programação no decorrer do feriado. Disse que o alerta é para chamar a atenção da comunidade para o que ocorre no mundo, como o fato dos EUA eleger o primeiro presidente negro. Também mencionou Benedito Hilário, que costumeiramente comandava as principais atividades da comunidade negra neste dia 20 de novembro. Jurandir concluiu suas considerações exortando as pessoas a refletir sobre a importância do Dia da Consciência Negra.

Também para fazer uma saudação, o representante da OAB, Dr. José Silvestre falou da importância de se comemorar a data no dia de hoje. Lembrou que no 20 de novembro não se deve esquecer de todos os que lutaram pelos avanços da comunidade negra. Mencionou o nome de Antonio Messias Galdino. Destacou o papel da Sociedade Beneficiente 13 de Maio, representada por Conceição. E, lembrou do sonho de Martin Luther King, ao tornar realidade seu sonho. "O mundo quer o diferente", disse. Silvestre reconheceu que Piracicaba também é pioneira nas vagas de concurso público. Sinalizou o papel do ex-vereador José Maria Teixeira, além de citar o legado da saudosa Ivete Madeira, além do próprio João Manoel, atual presidente da Câmara.

O presidente da Câmara, João Manoel dos Santos evocou a memória de Benedito Hilário (ganhou um minuto de silêncio no início da solenidade), que sempre marcou os eventos alusivos à comunidade negra. E, enfatizou o texto bíblico, no livro de Atos, onde a mensagem divina mostra a história da revelação de Deus para com um etíope, africano. Santos também lembrou dos avanços da comunidade. Além de acentuar a importância de Zumbi dos Palmares ao divulgar um modelo de democracia onde os povos se respeitavam, onde predominava a democracia racial. Também lembrou da saudosa Ivete Madeira, para recordar o quanto a parlamentar foi parceira nas lutas sociais.

Santos lembrou da busca de unidade que passa pelas políticas afirmativas, destacando o fato que nos EUA, logo após o processo de escravização, o negro foi indenizado. Sobre Barack Obama, o destaque é que só a chegada dele ao poder já foi muito importante. Santos finalizou suas considerações lembrando do sonho de Martim Luther King, onde brancos e negros possam viver em sociedade. "Nós queremos o poder não para dominar e sim para servir. Não queremos arrancar o ódio nem o rancor. Precisamos refletir sobre nossa comunidade. Tenho um sonho diferente de Martim Luther King, que nos próximos 20 de novembros, toda a comunidade negra se una, para mostrar o nosso nível de consciência", finalizou.

O Coral de flauta doce, do projeto Capoeira na Periferia, integrado por Samuel, Luiz Felipe, Júlio César, Giovani, Murilo, Lucas Amaral, Guilherme, Thiago, Vinícius, Anderson, Rufe, Lucas Dini e Thalis, sob a regência de Alexandre Menegalle, abriu a parte cultural da solenidade ao executar músicas que marcaram o início dos anos 60, nos EUA, onde a música negra e seus diversos aspectos ganhou espaço pela américa, difundindo até os dias de hoje.

Na sequência da solenidade, o Educador Benedito Leonel Dias Ferraz abordou o tema Africanidade, evocando o processo de escravização, em breve palestra sobre o conceito de raça, onde o que prevalece deve ser o conceito de população.

Na solenidade, um vídeo especial sobre Zumbi dos Palmares foi apresentado, mostrando a evolução da criação da data especial. Além do destaque especial ao homenageados:

Adenezes Aparecida de Queiróz Moraes, 34 anos, representando a Pastoral da Criança, atualmente Vila África.
 
Antonio Martim da Silva, que por motivos de doença não pode comparecer na solenidade. Aos 73 anos, o homenageado foi funileiro por 32 anos, é casado e tem dois filhos.

Felipe Menezes, diretor de teatro, fundador e diretor de Teatro, do Grupo de Estudos Teatrais Forfé, desde 1999. Dá aulas no Lar Escola Coração de Maria Nossa Mãe, além de desenvolver oficinas culturais do Estado. Também é diretor artístico e iluminador.

Odete Martins Teixeira, batuqueira de Tambú, carnavalesca e fundadora da Escola de Samba Portela de Piracicaba, levou a cultura piracicabana do Tambú para o Rio de Janeiroa, em 2004.

Salvador Nazario, vendedor ambulante e confeiteiro, desde os 15 anos, viúvo da Sra. Aparecida Rosa, com quem teve sete filhos, sendo que hoje é casado com a Sra. Irene de Jesus, sendo avô de 23 netos, além de criar uma enteada desde a infância, mora no Bosques do Lenheiro, há nove anos.

Para falar em nome dos homenageados, Odete Martins Teixeira disse a satisfação de ser homenageada no Dia da Consciência Negra. "Muito obrigada. Aguardo vocês todos na Paulista", finalizou, destacando a continuidade da programação preparada pela comunidade negra neste 20 de novembro.

O Grupo de Break, sob a coordenação do Professor Maicol Jeferson se apresentou na solenidade. Também integraram o grupo: Lucas, Mike, Paulo, Gabriel, Lucas Mateus e Kalrs.

Também se apresentaram na solenidade o Grupo de Axé Explosão da Dança, composto pelas alunas Thais Pereira, Natália, Hellen, Daniele, Aline, Tatiane, Marcela, Natália Rodrigues, Isabela, Thaís Nicodemos e Jéssica, sob a corodenação da professora Viviane da Silva.

O Grupo Sanguluka, integrado pelos angolanos, Goio, Luciano e Sofia se apresentam na solenidade.

Finalizando as apresentações, o grupo de Capoeira Acrobática, sob a coordenação dos mestres Valter e Vagner, além de se apresentarem destacaram a importância do resgate da capoeira como forma de perpetuar a luta do negro. 

Também compuseram a Mesa Diretiva da solenidade o representante do presidente da OAB-Piracicaba, Carlos Alberto Avancini, José Silvestre; a chefe de governo, Izaura Francisca; a representante do deputado federal Antonio Carlos de Mendes Thame (PSDB), Aracy Lovadini; o secretário municipal de Trãnsito e Transportes, Mário Miotto; o representante da Polícia Rodoviária, Comandante de Base, Adonias de Oliveira Mengati. O vereador José Luiz Ribeiro (PSDB), justificou ausência na solenidade.

 
Na solenidade do ano passado (2007), que também durou mais de duas horas, aconteceu a participação do professor Daniel Antonio de Moraes, que recitou poesia de sua autoria em exaltação ao negro:

Negritude

Sou sem alma?
Não! Tenho alma.
Um corpo, uma vida
Em minhas costas feridas
Em forma de mapa
Que mostram os caminhos percorridos
Olhe minhas mãos!
Calos, montanhas, linhas da vida
Minha cor, meu amor.

Dizem que a cor negra
Só pode ser vista no ecoar do desespero
É destempero
De quem não sabe
Sambar, louvar respeitar.
Mais conhece como ninguém
O açoitar, o ficar inerte
E desfalecer na tristeza de discriminar

Raça, racismo, cor, patriotismo
Sou brasileiro, sou negro!
Tenho em mim
Deus, Olorum, Xangô, Iansã
Oba, Oxum, Ogum,
Francisco, Maria, José, Pedro
Jerônimo, Jesus, Bárbara.

Minha pele, meu manto
Negra bata que fui presenteado
Na cor a cultura, de meu presente,
De meu passado
que saber de onde venho
Procure nos mapas traçados em minhas costas
Nos calos de minhas mãos
Nas rugas de meu rosto

Siga os rios formados nos séculos de sofrimento
Pelas lágrimas do sangue negro
De mulheres, de homens, de crianças, de velhos
Que por serem dados sem alma
Ajudaram a construir
A grande nação
Chamada Brasil

Martim Vieira Mtb 21.939

Foto: Davi Negri MTB 20.499