
29 DE NOVEMBRO DE 2008
Reunião solene transcorrida na manhã deste sábado, dia 29 de novembro de 2008, às 11h00, com transmissão ao vivo pela TV Câmara, canal 08 da Net e pela Internet, si (...)
Reunião solene transcorrida na manhã deste sábado, dia 29 de novembro de 2008, às 11h00, com transmissão ao vivo pela TV Câmara, canal 08 da Net e pela Internet, site www.camarapiracicaba.sp.gov.br, no salão nobre "Prof. Helly de Campos Melges", Câmara de Vereadores de Piracicaba, conforme lei municipal 6.316/08, de autoria do presidente da Mesa Diretora, João Manoel dos Santos (PTB), marcou em Piracicaba a instituição do Dia Municipal da Lembrança, que será realizada anualmente no dia 30 de abril. A data será dedicada à divulgação do horror do Holocausto durante a 2ª Guerra Mundial.
Na formação da Mesa Diretiva da solenidade: o representante do prefeito Barjas Negri (PSDB), comandante da Guarda Civil Municipal, Silas Romualdo; o presidente da Câmara, João Manoel dos Santos; o deputado federal Valter Feldman; presidente da Federação Israelita do Estado de São Paulo, Boris Ber; vice-presidente Executivo da Federação Israelita do Estado de São Paulo, Ricardo Berkiensztat; representante da comunidade israelita em Piracicaba, Jaime Rosenthal; o representante da Sociedade Sírio Libanesa, Prof. Elias Salum, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil-Piracicaba, Dr. Carlos Alberto Baillo Avancini e o representante do CPI-9, Capitão Willian Martins, que também se revezaram na Tribuna de Honra para destacar a importância da comemoração do Dia da Lembrança em Piracicaba.
Dentre a programação, o cerimonial da Câmara reservou momento para a execução do Hino Nacional de Israel, bem como a palavra ao sobrevivente do Holocausto, Arie Yaari. Além da apresentação de um vídeo sobre Bem Abraham, "Filho da Esperança" (23 minutos), que sintetiza o horror que foi o Holocausto.
Em matéria da jornalista Adriana Ferezin, publicada na edição do Jornal Gazeta de Piracicaba (29/11/2008), e transcrita abaixo, o destaque é que Piracicaba lembra o Dia do Holocausto, instituindo o evento no Calendário Oficial.
Cidade
Lei lembra holocausto
2ª Guerra Mundial Sobrevivente de campos de concentração participa de evento hoje na Câmara de Vereadores de
Piracicaba
ADRIANA FEREZIM
Especial para a Gazeta
Sobrevivente do holocausto, Arie Yaari, 86 anos, está em Piracicaba para participar hoje da solenidade de publicação e implantação da Lei nº 6316/08, que institui o Dia Municipal da Lembrança, que será realizado anualmente no dia 30 de abril. A data será dedicada a divulgação do horror do holocausto durante a 2ª Guerra Mundial nas escolas do município. A solenidade será às 11 horas, na Câmara de Vereadores de Piracicaba.
Yaari dedica sua vida a lutar para que o holocausto, onde foram mortos 6 milhões de pessoas, principalmente judeus, nunca mais aconteça.
É com essa proposta que ele vai falar por 20 minutos hoje na Câmara. A Lei foi desenvolvida pelo comerciante Jayme Rosenthal, em conjunto com o vereador João Manoel dos Santos, presidente do legislativo.
"Os jovens precisam saber o que aconteceu e não aceitar a publicidade fundamentalista que fizeram os nazistas e que pode ressurgir. Existe esse perigo", alerta Yaari.
No Brasil desde 1954, Yaari trabalhou na construção de casas até construir um hotel em Campos do Jordão e passar a administrá-lo com sua primeira esposa, Fela (já falecida), com quem teve três filhos. Um nasceu na Alemanha, outro em Israel e o terceiro no Brasil. Fela foi sobrevivente de Auschwitz..
Os alemães montaram mais de 300 campos de concentração. A maioria deles na Polônia, país onde Yaari nasceu.
Ele morava com os pais e mais dois irmãos em uma cidade polonesa próxima a divisa com a Alemanha. Somente ele sobreviveu até hoje. "Meu irmão mais velho também viveu depois da guerra, mas morreu pouco tempo depois. Meus pais e irmão caçula, descobri que foram para Auschwitz".
Em 1940, Yaari tinha 17 anos, aproximadamente 75 quilos e estudava serralheria mecânica. Acreditou - como toda a população polonesa e outras - na propaganda nazista de que os alemães precisavam de jovens para trabalhar por seis meses na guerra. Ficou prisioneiro por cinco anos e foi libertado pesando 48 quilos. Foi difundindo propaganda enganosa que os alemães iludiram os poloneses e outros povos judeus para levá-los aos campos de concentração.
MORTES. O primeiro campo de concentração onde ficou detido foi o de Blechamer. "Junto comigo tinham 2.500 pessoas, em questão de meses éramos 250. Morría-se de fome, doenças, de frio. Então nos levavam para outro campo, para ir juntando as pessoas. Passei nesses cinco anos por 11 campos de concentração", afirma.
Entre os momentos mais terríveis Yaari lembra do trabalho que era obrigado a fazer de carregar trilhos de trem. "Com o frio, pedaços dos dedos ficavam grudados nos trilhos. Essas feridas infeccionavam.
Os nazistas não davam remédios e as pessoas morriam de infecção. Também era triste as pessoas que se jogavam nas cercas que eram eletrificadas e a luta por comida. Nessa hora aflorava o instinto animal. Para sobreviver muitos roubavam o pão praticamente da boca do outro", lembra.
O alimento servido no campo de concentração consistia em um pedaço de pão e uma água preta que eles chamavam de café, pela manhã. No almoço algumas batatas ou somente uma só e à noite, novamente um pedaço de pão e a água preta, conforme Yaari.
Ele disse que superou todo o sofrimento. "No campo aprendi a não me entregar e foi acreditando nisso que construi minha vida", disse.
Ao ser libertado no final da guerra, ainda ficou dois anos morando no campo de concentração com outros sobreviventes porque não tinham para onde ir. Foram mantidos pela ONU. Depois de receber indenização do governo alemão, foi para Israel e como não conseguiu visto para os Estados Unidos, veio para o Brasil.
Um fato que mostra o lado generoso do brasileiro o fez ficar aqui. "Quando desembarquei no porto de Santos, um trabalhador me ofereceu sua marmita. Naquele momento eu disse, meu Deus, ninguém no mundo faz isso sem conhecer a outra pessoa, dar a própria comida", conta.
Há cinco anos ele escreveu o livro O Leão da Montanha - Dos Campos da Morte para Campos de Jordão, da editora Séfer.
Texto e pesquisa: Martim Vieira Mtb 21.939
Fotos: André Stênico