
24 DE MAIO DE 2013
A Câmara promoveu, na noite desta sexta-feira (24), solenidade em comemoração ao Dia da África, que será celebrado neste sábado (25). A cerimônia foi organizada pel (...)
A Câmara promoveu, na noite desta sexta-feira (24), solenidade em comemoração ao Dia da África, que será celebrado neste sábado (25). A cerimônia foi organizada pelo vereador João Manoel dos Santos (PTB), presidente da Casa. Por duas horas, autoridades e pessoas ligadas a movimentos negros abordaram a influência da cultura africana no Brasil e no mundo.
"O dia 25 de maio simboliza a luta dos povos da África por sua independência e emancipação. Esta data é uma oportunidade de medirmos os progressos e as obras realizadas no continente conhecido como berço da humanidade", disse Ana Lúcia Braz, presidente do Centro de Documentação, Cultura e Política Negra.
"Tenho uma admiração muito grande pela cultura africana. É um continente importante na formação de nosso país, pois agregou uma série de valores à nossa cultura. Da África, veio uma forte influência na cultura, na culinária, na religião, na música e no nosso dia a dia", observou Eliete Nunes Secamilli, secretária municipal de Desenvolvimento Social, ao salientar que a pasta "tem um carinho todo especial pelo povo africano".
João Manoel, que conduziu a solenidade, fez um discurso incisivo em defesa da liberdade de expressão. Ele mencionou o episódio, ocorrido em 29 de outubro do ano passado, em que uma pessoa que assistia à reunião ordinária daquela noite permaneceu sentada durante a leitura bíblica.
"Jamais impedi qualquer expressão religiosa, política ou ideológica. Sempre defendi a pluralidade, sempre. Houve um episódio muito bem orquestrado aqui, em que aproveitaram a questão da leitura da bíblia. Não foi a questão da bíblia; é a questão do João Manoel, que é negro e que chegou a esta Casa quase da mesma forma simples com que os negros chegaram ao Brasil, mas com muita honra e dignidade."
"Esta Casa não é um gueto religioso, como quiseram fazer com minha pessoa, de forma covarde. Sei que esta é uma Casa de Leis e, em sete mandatos como vereador e quatro como presidente, nunca impus qualquer religião. Nós respeitamos todas as religiões: o Deus a quem eu sirvo criou todas as religiões do mundo e eu não tenho o direito de sobrepô-las a outras pessoas", acrescentou João Manoel.
"Fiz por merecer estar aqui, senão não estaria há sete mandatos como vereador e ––o único na história–– há quatro mandatos como presidente. Aí estão nossas contas fiscalizadas e acompanhadas pelo Tribunal de Contas: as de 2011 foram aprovadas sem nenhuma ressalva. Mas isso não foi por causa da cor dos meus olhos ou da minha pele ––e muitos não aceitam isso."
João Manoel pediu um basta à discriminação racial no Brasil e lembrou que ela ocorre de forma velada. "Não adianta dar tapinha nas costas do negro em época de eleição, eu não engulo isso. Chega de aceitar os "faz de conta", chega de apresentar qualquer discurso para impedir que o negro assuma um lugar."
"A escravidão no Brasil foi a pior do mundo! Em Israel, eles tiveram o direito de ter suas colônias, suas famílias, seus costumes e defender sua religião. Já no Brasil, a escravidão foi de uma forma muito covarde, a mais selvagem do mundo. A primeira coisa que fizeram foi mudar o nome e a religião do negro "na marra" e tirar os filhos para que seus pais não pudessem contar sua história a eles."
João Manoel criticou as pessoas que, com condutas racistas, tentam "passar por cima do negro". "Nosso objetivo aqui é resgatar nossa história sem sobrepor-se a ninguém. Há uma ideia fajuta de que alguém, por causa da cor da pele ou de um diploma, é melhor que o outro. Somos iguais: no Quilombo dos Palmares, Zumbi defendia uma democracia verdadeira, em que negros e brancos eram iguais. É preciso resgatar nossa história, cultura, culinária e conhecimentos. O berço da humanidade é a África", concluiu o vereador.
HOMENAGENS
Ao falar em nome dos seis homenageados pela Câmara por ocasião do Dia da África, Adney Araújo de Abreu apontou a "importância de ser reconhecido em vida". "Queremos ser reconhecidos não pelas mazelas que sofremos, mas por nossas vitórias." Ele rechaçou a ideia de dividir as pessoas segundo o grupo étnico a que pertencem. "A raça caiu na terra e trouxe desavenças. Não somos raças, mas seres humanos."
Além de Adney, foram agraciados com diploma de reconhecimento de mérito Cláudio Aparecido Theodoro, Maria José Ferreira (Mazé), Odette Martins Teixeira, Rafael Baptista Antonio e Sônia Maria Veríssimo. João Manoel também foi homenageado, por Ana Lúcia Braz, por ter instituído em Piracicaba a solenidade pelo Dia da África.
A cerimônia ainda contou com a apresentação da tenda de umbanda Caboclo Pena Branca e dos MCs Daniel Garnet e Robson Peqnoh, com palestras de Ademir Barbosa Júnior (sobre religiões de matrizes africanas no terceiro milênio) e Daniel Bidia Olmedo Tejera (sobre cultura negra e juventude) e com a exibição de um vídeo com um resumo da vida dos homenageados, produzido pelo Departamento de Comunicação da Câmara.
Além de João Manoel, Eliete Secamilli e Ana Lúcia Braz, prestigiaram a solenidade pelo Dia da África José Luiz Teodoro, conselheiro do Centro de Documentação, Cultura e Política Negra; Adílson Araújo de Abreu, coordenador político do Conselho da Comunidade Negra; o reverendo Antonio Olímpio Santana, da Igreja Metodista; o pastor Amadeu Lopes Barbosa, da Assembleia de Deus Ministério Belém; e o diretor do Sindicato dos Trabalhadores Municipais de Piracicaba, José Alexandre Pereira.
TEXTO: Ricardo Vasques / MTB 49.918
FOTOS: Fabrice Desmonts / MTB 22.946