
09 DE JUNHO DE 2008
Foram homenageados na noite de sexta-feira (06/06), com o Prêmio Garcia Netto de Comunicação/2008, 13 profissionais da imprensa piracicabana, conforme propositura d (...)
Foram homenageados na noite de sexta-feira (06/06), com o Prêmio Garcia Netto de Comunicação/2008, 13 profissionais da imprensa piracicabana, conforme propositura do vereador Carlos Gomes da Silva, o Capião Gomes (PP). A homenagem aconteceu na Câmara de Vereadores e contou com a presença dos vereadores João Manoel dos Santos e Francisco Edilson dos Santos, Chico da Água, ambos do PTB. Além de Capitão Gomes.
Em seus discursos os vereadores João Manoel e Capitão Gomes, falaram sobre a importância e a responsabilidade do profissional de jornalismo, que tem como obrigação relatar de forma fiel os acontecimentos a sociedade.
Eles também lembraram que o profissional de jornalismo, muitas vezes, é vitima de repressão e violência. Citaram como exemplos, Vladmir Herzog, morto em plena ditadura militar e Tim Lopes, morto por traficantes no Rio de Janeiro. Também destacaram a condição da imprensa ser a detentora do 4º poder.
Além da homenagem da Câmara, os jornalistas também foram homenageados pelo presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, José Augusto Camargo e, pela Escola de Idiomas, The House, representada por Alessandra Silva.
Também estiveram presentes na solenidade o doutor João José Dutra, delegado seccional de Piracicaba e o doutor Carlos Avancini, representante da Ordem dos Advogados do Brasil - Piracicaba. Além do diretor do Teatro Municipal, José Maria Cassaniga, que representou o prefeito municipal Barjas Negri (PSDB).
O jornalista da Câmara, Martim Vieira Ferreira, que também foi um dos contemplados da noite, na condição de trabalhos em movimentos sociais, falou em nome dos homenageados. Em seu discurso, destacou a importância dos jornalistas, bem como a sociedade piracicabana conhecerem um pouco da história da organização sindical dos jornalistas em Piracicaba, que completa 20 anos de luta em 2008.
Martim Vieira também lembrou dos 200 anos da imprensa no Brasil, o que evidencia a figura de Hipólito da Costa, ao editar o primeiro jornal brasileiro, na Inglaterra, o Correio Braziliense. Além de abordar sobre o problema da violência no País, principalmente a que afeta a classe jornalística. Como exemplo, citou a morte de Tim Lopes, há seis anos e, fatos atuais, como a agressão a três jornalistas do Jornal O Dia, também do Rio de Janeiro, que foram torturados por milicias, integradas por ex-policiais.
Também mereceu destaque na solenidade, a Carta escrita pelo filho de Tim Lopes, Bruno Quintella (logo abaixo), em condenação à onda de violência que afeta jornalistas, no Rio de Janeiro.
Foram homenageados com o Prêmio Garcia Netto de Comunicação 2008: Marcelo Bandeira (radiodifusão), Carlos Eduardo Castro, (artes/diagramação); Marisa Massiarelli Setto (reportagem de revista); Mateus Medeiros (fotografia); Simone Toledo Leme Cândido (editora de conteúdo de site); Fabiana Groppo (telejornalismo), Romualdo da Cruz, (livro-reportagem), Vanderlei Zampaulo (imprensa sindical), Ana Maria Cordenonsi (ensino jornalismo), Celiana Perina Maschio (assessoria de imprensa), Marisa Wildner Benachio (jornalismo científico) e Martim Vieira Ferreira (ONGs e movimentos sociais) e Joacir Cury (matéria/site).
Filho de Tim Lopes escreve carta para equipe de O DIA |
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Bruno Quintella, de 25 anos, filho do jornalista Tim Lopes, morto há seis anos, por traficantes, enquanto fazia matéria para a Rede Globo, escreveu uma carta aos três membros da equipe de O DIA, que foram torturados por membros da milícia que controla a Favela do Batan, em Realengo, Zona Oeste. Confira a íntegra da carta: "Meus queridos colegas, Ainda estou sob estado de choque pelo o que aconteceu. Não bastasse a infeliz coincidência, pela proximidade do aniversário de morte de meu pai, fui surpreendido pela má notícia quando chegava para trabalhar no plantão da madrugada, há quatro dias. A edição de domingo do jornal "O Dia", lida ainda no sábado, anunciava em letras garrafais brancas e com fundo negro a covardia a qual vocês foram submetidos na Favela do Batan, em Realengo. Mais um atentado contra a imprensa e principalmente, contra o estado democrático de direito. Uma afronta não só ao jornalismo, mas ao ser humano e à dignidade. Um atentado contra nós. Uma tentativa de nos intimidar, jornalistas e cidadãos, mas, ao que parece, essa prática não é mais exclusiva dos traficantes de drogas. Não se trata mais de poder paralelo, nem poderes. Como na matemática, ironicamente sem lógica, no entanto, são projeções paralelas de um poder falido e moribundo. A milícia funciona, no sentido antropológico da questão, como anti-tráfico de drogas. É uma atividade que cresceu muito em pouco tempo, tangenciando os limites físicos e latifundiários da indústria do narcotráfico carioca, supostamente para sufocá-lo. Ora, como pode existir a milícia sem o tráfico? Como podem existir essas duas modalidades de crime, sem a ausência do Estado? O curioso é que, passados vinte dias desde a violência sofrida pela equipe, muitos questionam a conduta do jornal e dos profissionais envolvidos, do risco, do perigo. Dai a César o que é de César - e a Deus o que é de Deus. Não podemos esquecer - e não vamos - meus colegas, da barbárie, da covardia, da violência física, dos choques, da humilhação e do trauma. Nisso, não há o que discutir. Não há o que opinar, não há conduta certa: sofrer na pele, só quem sofreu. A morte de Tim Lopes foi um divisor de águas nas questões de coberturas jornalísticas de violência e segurança pública. Fazer reportagens sobre esses temas, principalmente quando se trata de uma intimidação ao trabalho da imprensa, com tortura e, até a morte, é nosso papel, nosso ofício, dentro ou fora da redação. Porém, está na hora da mobilização. Como lembrou bem o colega Jorge Antônio Barros, nós jornalistas, também precisamos sair do casulo "para ver melhor a dor que não sai no jornal". Precisamos convocar para essa luta todos os cidadãos que já foram vítimas de violência, seja ela de qualquer tipo. Não sei onde vocês estão, mas sei que estão bem, em local seguro, e me solidarizo ao que vocês passaram, porque imagino como estejam suas famílias, já estive daquele lado, na turma dos terços, das mãos dadas, do rosto molhado, das noites sem dormir. Naquela edição de domingo, dia 1º, todos nós fomos ao Batan. Todos nós apanhamos, fomos eletrocutados, desmaiamos e fomos largados à beira da Avenida Brasil. Existe exame psicológico de corpo de delito? Cicatrizam-se as chagas de um trauma? Não, vocês não são heróis. Não, não acabou o sofrimento. Vocês são corajosos, arriscaram a vida para mostrar à sociedade o drama de quem vive sob poder da milícia. Só não esqueça que tem muita gente aqui do seu lado, mesmo vocês estando longe. Sou jornalista, filho de jornalista, sobrinho de jornalista, afilhado de jornalista e escrevo a vocês como homem, como amigo e, claro, como profissional. No entanto, para nós, não é possível desvencilhar essa trinca, é? Meu pai morreu para contar a história. Vocês também foram vítimas da violência, a do outro lado, a dos maus policiais. Ainda me pergunto se a maior afronta foi o espancamento, o cala-boca, a intimidação, a covardia, ou se foi deixá-los vivos, mesmo depois de se identificarem como policiais. A impressão que fica é quem morre vive menos, mas, quem vive morre mais. Conviver com o trauma, a pena para quem viveu o pesadelo; a certeza da impunidade, a motivação para a continuidade da atividade da milícia. Elias Maluco, 01, Largo do Chuveirão, Favela da Grota, tribunal do tráfico, tribunal da milícia, poder paralelo, afronta, tortura, barbárie, intimidação, estado democrático de direito, resposta, cobrança, mobilização, paz, solidariedade, conduta, profissão, risco, morte e vida. São palavras do dicionário da violência do Rio. E nós, jornalistas e cidadãos, somos analfabetos que sabem escrever. Fonte: O Dia Online |
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Foto: Haroldo Faria Neto