Um trabalho voltado à cidadania que começou numa visita à Câmara no início do ano e depois continuou em sala de aula teve seu desfecho na manhã desta terça-feira (22) com a participação de 46 alunos do Senac no "Conheça o Legislativo", a convite do vereador João Manoel dos Santos (PTB). Recepcionadas pelo chefe de gabinete Vanderlei do Carmo, foi a segunda ocasião em que as duas turmas do Programa Aprendizagem em Gestão e Negócios estiveram na Casa de Leis.

Na primeira oportunidade, os aprendizes assistiram às apresentações sobre a história de Piracicaba, os poderes constituídos e as funções de um vereador. Mas foi a discussão de um projeto de lei fictício, sobre bullying, que motivou os alunos a retornarem à Câmara para, dessa vez, debaterem uma propositura formulada por eles mesmos nas aulas do primeiro módulo do curso de Gestão e Negócios, que, nessa etapa, são focadas na formação cidadã dos jovens.

O projeto de lei apresentado pelos aprendizes previa a proibição da prática de homofobia e racismo nos estabelecimentos de ensino do município. Nove alunos foram à tribuna debater a proposta ––três deles simulando posicionamento contrário à ideia. "Sou contra. A meu ver, essa lei vai ser aprovada somente no papel, lá fora ninguém vai conseguir fazer que ela seja exercida", disse o aluno Eduardo*. "Vai virar um escudo para eles [vítimas de homofobia e racismo] se protegerem na sociedade", afirmou Douglas. "Não precisa criar mais uma lei para proteger. A escola é que deve fazer sua própria lei e tomar suas próprias decisões", defendeu Leonardo.

Já os alunos favoráveis à proposta citaram a Constituição Federal e episódios de agressão para justificar a necessidade da aprovação do projeto fictício. "Acredito que todos nós somos iguais e podemos amar igualmente, seja alguém do outro sexo ou do mesmo. O importante é ser feliz e amar, porque a vida é muito curta para ficarmos cuidando da vida do próximo", analisou Bianca. "O racismo é crime", frisou William. "O projeto tem que ser aprovado. Infelizmente, são cada vez mais comuns casos de homofobia na nossa sociedade. A comunidade GLBT precisa desse projeto de lei, que não fere a liberdade de ninguém", observou Amanda, ao salientar que desde a Constituição de 1988 nenhuma lei do tipo foi aprovada.

A aluna Carol também citou a Carta Magna ("Todos somos iguais perante a lei"), destacou a importância do projeto ("Vai garantir a máxima convivência harmoniosa na cidade") e criticou os ataques contra as vítimas ("Trata-se de um ato de discriminação e racismo, o que o torna repugnante"). Já seu colega, Rander, usou os casos do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) e do presidente norte-americano Barack Obama para falar, respectivamente, sobre o desrespeito aos homossexuais e a quebra de paradigmas pelos negros.

O advogado James Granziol, que conduziu os debates dos alunos do Senac, considerou a discussão "a melhor" de todas as edições do "Conheça o Legislativo". Antes da simulação da reunião ordinária, coube ao servidor da Câmara retomar os conceitos vistos na primeira visita das turmas à Câmara, tais como as funções dos vereadores e a mudança na interpretação das leis conforme o tempo e a evolução da sociedade.

Acompanhada das professoras Deliane Scopinho e Alessandra Leme, a docente-coordenadora do Programa Aprendizagem em Gestão e Negócios do Senac, Ana Maria Barbosa Alves, elogiou o comportamento dos jovens. "Como sempre digo, vocês são os facilitadores e modificadores de todas as situações que temos em nosso país. Podemos fazer diferente a partir de vocês. Vocês fazem a diferença e vão mudar essa situação", disse Ana Maria, que filmou, por conta própria, trechos das discussões protagonizadas pelos alunos.

TEXTO: Ricardo Vasques / MTB 49.918

FOTOS: Davi Negri / MTB 20.499