PIRACICABA, SÁBADO, 27 DE ABRIL DE 2024
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09 DE FEVEREIRO DE 2024

Achados do Arquivo: até durante a folia, os negócios são à parte


Ata de reunião ordinária da Câmara, às vésperas do Carnaval de 1904, mostra a preocupação de preservar o comércio gerado pelos festejos



EM PIRACICABA (SP)  

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Festa de origem portuguesa, o entrudo foi uma das primeiras formas de celebrar o Carnaval no Brasil e era praticado por escravizados: estes saíam pelas ruas com os rostos pintados jogando farinha e bolinhas de água de cheiro (ou não) nas pessoas



Em ritmo de folia, a série Achados do Arquivo desta semana tem como tema o Carnaval. Festividade de inegável importância cultural e histórica no Brasil, também tem relevância econômica. Para além da expressão artística e musical, incorporada em desfiles, fantasias e blocos, o Reinado de Momo fomenta diferentes setores, entre eles, é claro, o comércio.

Mas a relação entre Carnaval e comércio não é algo recente, lá do início do Século 20, no Brasil já existia preocupação sobre essa afinidade. Um indício pode ser encontrado em documento preservado pelo Setor de Gestão de Documentação e Arquivo da Câmara Municipal de Piracicaba, mais precisamente na ata da sessão ordinária de 1º de fevereiro de 1904.

O registro daquela sessão ordinária, que aconteceu na iminência do Carnaval de 120 anos atrás, tem o seguinte texto:

“Ordem do Dia: requerimentos de Francisco Rodrigues e Gaspar H. C. pedindo para conservarem aberta uma folha de porta dos seus estabelecimentos nos dois próximos domingos, para venderem artigos carnavalescos – Deferidos, ficando o Intendente incumbido de determinar o modo de venda sem violação da lei de fechamento de portas” (em transcrição livre)

A citada lei trata-se da normativa promulgada em 7 de dezembro de 1903, ou seja, poucos meses antes, que definia:

“(…) todas as casas de negócio situadas no perímetro urbano, exceção de farmácias, hotéis, restaurantes, açougues, cafés, confeitarias, bilhares e padarias, são obrigados a conservar-se fechados aos domingos, ficando-lhes interdito o comércio nesses dias” (em transcrição livre)

O fechamento do comércio aos domingos – os dias santos, afinal – foi fruto de longa luta da classe caixeiral pela redução da jornada de trabalho, tema já abordado em outra matéria da série Achados do Arquivo, que pode ser acessado através por meio deste link. O que se tem, em poucas linhas do documento manuscrito, é o embate entre dois mundos, de um lado a persistência e interminável batalha pelas garantias de direitos trabalhistas e de outro a potência comercial envolta em músicas, fantasias e acessórios.

Não é possível precisar ao certo quais eram os “artigos carnavalescos” vendidos pelos senhores Francisco e Gaspar, afinal, a mais popular das festas brasileiras tem origens e transformações influenciadas pela diversidade cultural, que é marca do país. Passando pelos entrudos, pelos bailes de máscaras, pelos cordões, pelos blocos, pelos clubes, pelos corsos e pelos desfiles, o Carnaval adorna-se de cultura, expressões artísticas, musicalidade, alegria, folia e... lucros!

Embora lançada no final da década de 1950, a famosa marchinha de Moacyr Franco conseguiu captar o sentimento de épocas passadas, ao sintetizar de maneira caricata que, até na folia, os negócios são à parte:

“Você vai ver a grande confusão / Eu vou fazer, bebendo até cair/ Me dá, me dá, me dá / Oi, me dá um dinheiro aí.” (Texto de Giovanna Fenili Calabria)

ACHADOS DO ARQUIVO - A série "Achados do Arquivo" é uma parceria entre o Setor de Gestão de Documentação e Arquivo, ligado ao Departamento Administrativo, e o Departamento de Comunicação Social da Câmara Municipal de Piracicaba, para realizar publicações semanais no site da Câmara, às sextas-feiras, como forma de tornar acessível ao público as informações do acervo do Legislativo.



Texto:  Erich Vallim Vicente - MTB 40.337




Achados do Arquivo Documentação

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