O uso de álcool e drogas pode ser favorecido por um conjunto de comportamentos, alertou nesta segunda-feira (24) o médico Moisés Taglieta, coordenador do Cedic (Centro de Doenças Infectocontagiosas) de Piracicaba. O alerta foi feito em palestra que abriu a 19ª Semana Municipal sobre Álcool e Outras Drogas, no salão nobre da Câmara.

O evento atraiu dezenas de pessoas, entre profissionais da saúde e jovens do Instituto Formar. Com programação que se estende até a próxima sexta-feira (28), a Semana é promovida pela vereadora Adriana Cristina Sgrigneiro Nunes, a Coronel Adriana (CID), e pelo vereador Gilmar Rotta (MDB), autores do requerimento 133/2019.

Taglieta apresentou os principais motivos que levam uma pessoa a provar ou tornar-se usuária de drogas. "Pode ser por curiosidade, pela influência de amigos, pelo prazer imediato que produzem, pelo fácil acesso a elas ou pela impressão de que podem resolver todos os problemas ou aliviar as ansiedades", comentou.

Segundo o médico, os riscos de se tornar usuário de álcool e drogas é maior para quem acha que possui controle sobre determinada situação ––a ponto de sair dela quando bem entender––, pensa que males só acontecem com os outros, tem medo de mostrar o que sente ou não conta com pessoas de confiança para ajudar quando preciso.

Características que podem indicar que uma pessoa está em contato com drogas incluem alteração de humor e personalidade, atitude menos responsável diante da vida, mudança de amigos, passatempos e interesses, busca por maior privacidade, dificuldade de comunicação e deterioração física e mental.

Taglieta salientou que a abordagem em relação às drogas e ao álcool, na área de saúde, foca a interação delas na sociedade e seu impacto na qualidade de vida, gerando complicações que vão de hipertensão a problemas pulmonares ––o especialista também chamou a atenção para as infecções sexualmente transmissíveis.

O médico lamentou que a nova lei do Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas, sancionada no último dia 5 pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), "praticamente desapareça" com a política de redução de danos, mas elogiou que o texto confira aos municípios a responsabilidade de elaborar plano para o enfrentamento às drogas.

"Hoje cada vez mais discutimos planejamento, pois obriga a todos os atores envolvidos olhar para a nossa realidade e ver qual resposta temos. É bom que a lei traga isso, é um grande avanço ter de fazer plano", afirmou Taglieta, para quem a política de drogas no Brasil "nem sequer foi para o papel porque ainda não saiu da cabeça" de quem deveria ser responsável por elaborá-la.

A internação involuntária de usuários de drogas, definida com a aprovação do novo texto do Sisnad, abriu espaço para pontos de vista diferentes no evento no salão nobre da Câmara. Na plateia, uma espectadora questionou se a medida não tornará essas pessoas "ainda mais vulneráveis" e alertou para o risco da "transformação de uma política de cuidados para uma higienista".

Taglieta disse ser necessário "cuidar do contexto" em que o usuário de drogas está inserido, algo não feito até hoje. "Essa pessoa tem recaídas porque retorna à mesma realidade. Se não cuidar dessa integralidade, ficaremos sempre no ciclo vicioso. Temos de intervir nesses pontos de 'start', para não ficar enxugando gelo como hoje."

Coronel Adriana elogiou a redação da lei 13.840/2019 por, entre outros aspectos, introduzir as comunidades terapêuticas no Sisnad, conferir maior competência aos municípios na elaboração de planos para a execução de políticas públicas relacionadas ao tema, permitir o leilão de bens apreendidos com a reversão da renda para programas na área e possibilitar a internação compulsória de usuários. "Achei que a lei ficou muito boa", disse a vereadora, que observou, no entanto, a necessidade de o fundo nacional de recursos para a execução de políticas públicas contra as drogas passar a favorecer os municípios.

Coronel Adriana aproveitou a ocasião para agradecer ao prefeito Barjas Negri (PSDB), presente no evento, a inclusão de R$ 100 mil no Orçamento deste ano para investimento na área, após a demanda ser levada por ela ao Executivo. "É muito importante a comunidade perceber que há esse engajamento de todos para o trato dessa questão", afirmou.

"Temos trabalhos conjuntos na cidade que são da melhor qualidade", disse Barjas Negri, "a exemplo do Conselho Municipal de Drogas; do Deinter-9 com o Proerd, envolvendo milhares de jovens com palestras o ano todo; da Guarda Civil com o programa Educação é Prevenção; do Fundo Social de Solidariedade, que organiza boa parte desse trabalho para acolher e orientar bem os nossos jovens; sem contar o trabalho das secretarias de Educação, nas escolas públicas e particulares, e de Saúde".

"E, mesmo com todo esse aparato, não vencemos a batalha: a incidência de dependentes químicos tem aumentado e são poucas as famílias que não têm um caso para o acompanhamento e o tratamento. Lamentavelmente, algumas pessoas confundem com política de segurança, que é outra história. Temos que ter com nossos jovens o acolhimento. Se estivermos unidos, sensibilizando a sociedade e as organizações não-governamentais, temos a chance de evitar que esse problema se alastre no seio da sociedade", acrescentou o prefeito.

A abertura da Semana Municipal sobre Álcool e Outras Drogas contou com a presença do vereador Pedro Kawai (PSDB), da secretária municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, Eliete Nunes, da coordenadora do ambulatório de saúde mental e drogas da Secretaria Municipal de Saúde, Franciele Maria dos Santos, do subcomandante da Guarda Civil Municipal, Narzi Alves Novaes, da representante do Conselho Municipal de Saúde, Fernanda Antonin, e do presidente do Conselho Municipal de Álcool e Outras Drogas, Paulo Soares.