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23 DE JUNHO DE 2021

Especialistas apontam como estigmas prejudicam prevenção às drogas


Tema foi abordado, quarta-feira (23), em live no perfil do Instagram do Parlamento Aberto em série voltada à saúde mental e combate à dependência química.



EM PIRACICABA (SP)  

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Evento on-line recebeu a psicoterapeuta Paula Becker e o mestre em Trabalho, Saúde e Ambiente, Marcos Hister



Para discutir o tema “Prevenção e Tratamentos no uso de Drogas”, a live no perfil do Instagram do programa Parlamento Aberto recebeu, quarta-feira (23), a psicoterapeuta Paula Becker e o mestre em Trabalho, Saúde e Ambiente, Marcos Hister. A transmissão integra série de entrevistas sobre dependência química e a saúde mental, promovida pelo programa e o Fórum Permanente de Saúde Mental e Combate à Dependência Química, dos vereadores Gustavo Pompeo (Avante) e Pedro Kawai (PSDB).

De acordo com Paula Becker, é preciso haver uma desconstrução do estigma mental relacionado aos usuários problemáticos de drogas e levar esse debate à saúde mental como um todo. “O tratamento existe e com efetividade, ao contrário de quem imaginava não existir cura, nem tratamento”, ressalta.

Para psicoterapeuta, o estigma é a principal barreira de acesso a esse tratamento. “Sempre nos primeiros encontros com meus pacientes, eu parabenizo pela coragem e pela força de ter chegado até ali, porque eu sei que o 'chegar' até o tratamento, muitas vezes, é o principal desafio para essas pessoas. O estigma é o oposto do acolhimento”, enfatizou.

Esse estigma às doenças mentais e ao uso problemático de drogas, continuou Paula Becker, vem de uma necessidade das pessoas em diferenciar-se daqueles que possuem essas patologias. “Se eu tenho medo de me ver um dia naquela situação, a partir daí eu me afasto, criando uma barreira daquela situação.”

Marcos Hister destacou a importância da saúde mental no ambiente de trabalho como sendo um tema de extrema importância. De acordo com ele, as empresas precisam entender que seus funcionários podem fazer o uso de drogas por pelo menos dois motivos, sendo eles a questão funcional e a não funcional.

“A questão funcional é aquela que estimula o funcionário a usar a droga para que ele dê conta do trabalho, geralmente são trabalhos perigosos e desgastantes como a construção civil”, explicou. Já o uso não funcional, está relacionado com o fato de quando as drogas são usadas como um fim em si mesmo.

Existe ainda a dificuldade de que as pessoas com problemas relacionados a saúde mental não verbalizem. “Somos a todo o tempo, estimulados a não pensar no outro.”

Paula Becker trabalhou por 12 anos no SUS (Sistema Único de Saúde), especificamente no Caps (Centros de Atenção Psicossocial). Uma experiência que, de acordo com ela, a possibilitou vivenciar a realidade dos trabalhos desenvolvidos por esses centros de atenção.

“Os Caps são serviços do SUS, direcionados ao atendimento de saúde mental. São eles que promovem trabalhos de recuperação a usuários de álcool e drogas”, reforçou.

Em Piracicaba só existe um único CapsAd, que faz acompanhamento de dependentes químicos do município, localizado no antigo prédio da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do bairro Vila Cristina e funciona no período da manhã e da tarde, das 8h às 16h, atendendo demandas espontâneas e também referenciadas.

“É importante que as pessoas saibam que existe esse tratamento e que para ter acesso, basta ir diretamente a esse Caps com o cartão do SUS e um documento com foto de manhã ou de tarde e não é necessário agendar esse atendimento”, enfatizou a psicoterapeuta.

Piracicaba no entanto não possui o Caps III que, de acordo Paula, funcionaria 24 horas por dia, durante sete dias da semana, atendendo à população de referência com transtornos mentais severos e persistentes. “Em uma cidade de 500 mil habitantes, não é possível existir apenas um único Caps para esse tipo de atendimento”, critica.

Além disso, a psicoterapeuta destaca que é preciso também que esses serviços estejam territorializados e existirem próximo as casas das pessoas.

“Se um usuário crônico compulsivo de álcool ou drogas aceita buscar esse acompanhamento, dependendo da onde mora, precisará pegar pelo menos duas ou três linhas de ônibus e demorar no mínimo duas horas até o destino”, disse.

A política de combate ao uso de drogas é algo que, para Marcos Hister, precisa estar inserido no ambiente das empresas, mas de maneira consciente. “Não é demitindo o trabalhador quando ele apresenta esse tipo de caso, ou tentando interna-lo, pois, sem um tratamento adequado, essa pessoa pode voltar pior de quando ela entrou”.

O CapsAd de Piracicaba funciona no antigo prédio da UPA do Vila Cristina, localizado na rua Presidente Venceslau Braz, 69, Jardim Gloria. O horário de atendimento é de segunda à sexta-feira, das 8h às 11h e das 13h às 16h.



Texto:  Pedro Paulo Martins
Supervisão:  Rodrigo Alves - MTB 42.583
Revisão:  Erich Vallim Vicente - MTB 40.337


Legislativo Parlamento Aberto

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