18 DE NOVEMBRO DE 2020
Dos 23 candidatos eleitos, cinco se autodeclaram pretos ou pardos, o que equivale a 21,73% do total.
"O aumento no número de candidatos pretos e pardos eleitos é resultado da luta comunitária e da vontade dessa população, que é majoritária no país, em participar mais ativamente do debate político", avalia Acácio
Em um ano marcado por episódios de violência contra a população negra, como o assassinato de George Floyd, nos Estados Unidos, e do menino Miguel, em Recife (PE), a eleição de 2020 à Câmara de Vereadores de Piracicaba, concluída no domingo (15), trouxe um novo perfil ao Legislativo local.
Dos 23 candidatos eleitos, cinco se autodeclaram pretos ou pardos, o que equivale a 21,73% do total. Entre os que se identificaram dessa maneira, três se autodeclaram pardos e dois como pretos. As informações são do cadastro de candidaturas do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). A quantidade de eleitos é 67% maior do que o percebido na eleição municipal de 2016. À época, três vereadores eleitos se autodeclararam como pretos ou pardos, dois a menos do que o registrado em 2020.
Os candidatos Acácio Godoy (PP), Cássio Luiz (PL) e Thiago Ribeiro (PSC) conquistaram uma cadeira na próxima legislatura. Já os atuais vereadores Aldisa Vieira Marques, o Paraná (CID), e Wagner Alexandre de Oliveira, o Wagnão (CID), foram reeleitos e exercerão seu segundo mandato na Casa.
Para Acácio Godoy, a divisão de recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) para promover candidaturas pretas e pardas não teve qualquer influência nas eleições municipais. Ele atribui a alta ao aumento da conscientização racial.
"Quando a decisão do STF [Supremo Tribunal Federal], que só valeria a partir de 2022, foi antecipada para o pleito deste ano, a maioria dos candidatos já estava engajada na disputa, com projetos sólidos de campanha. O aumento no número de candidatos pretos e pardos eleitos é resultado da luta comunitária e da vontade dessa população, que é majoritária no país, em participar mais ativamente do debate político", avaliou Acácio.
Pela primeira vez na história, candidatos autodeclarados pretos passaram a ser o maior grupo de postulantes a cargos eletivos no país. Dados divulgados pelo TSE mostram que 276 mil candidatos negros concorreram nas eleições de 2020, o que representou 49,95% do total.
Para o presidente do Conepir (Conselho Municipal de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra de Piracicaba), Adney Araújo, as redes sociais, que ganharam ainda mais força durante a pandemia do coronavírus, foram também responsáveis pelo avanço da representatividade nas eleições deste ano. "O negro foi eleito não apenas por trazer à pauta as questões raciais, mas por representar a identidade do povo que clama por mudança."
Na avaliação de Adney, a maior proporção de candidaturas negras da história reflete a indignação da população com as injustiças cometidas pelo sistema político e social na forma como trata pretos e pretas no Brasil. "Agora, os vereadores eleitos devem trabalhar para que as pautas raciais não sejam lembradas apenas nos dias 13 de maio e 20 de novembro. Nossa agenda vai de janeiro a janeiro e precisamos de inclusão no trabalho, na educação e, sobretudo, na saúde", pontuou.
Embora a quantidade de vereadores autodeclarados pretos e pardos em 2020 seja expressiva, isso não significa uma ampliação nas pautas identitárias na política municipal. A questão é observada pelo professor e historiador Noedi Monteiro. "Conquistamos um grande avanço na promoção da igualdade racial no Brasil, mas a sub-representação do negro é resultado do racismo estrutural, presente na formação do país e perpetuado sistematicamente e institucionalmente."
Monteiro defende que os eleitos, nos níveis municipal, estadual e federal, precisam ir a fundo nas questões raciais. "Estamos no caminho certo, mas ainda há muito por fazer. A população precisa continuar elegendo representantes que não neguem a contribuição intelectual e política dos negros e não perpetuem estereótipos racistas."