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24 DE JULHO DE 2020

Roda de conversa promove reflexão sobre desigualdade de gênero


Evento buscou evidenciar o quanto as violências contra mulheres ainda são frequentes e encontram nas desigualdades de gênero raízes sólidas para se firmar.



EM PIRACICABA (SP)  

Debate foi mediado pela advogada Aline Meme Gallo e pela jornalista Thaís Passos da Cruz e contou, ainda, com a presença das jornalistas Beatrís Cortellazzi, Gabriela Melo, Mariana Requena e Rosa Cardoso e da advogada Sarah Stievano Consolini.

Debate foi mediado pela advogada Aline Meme Gallo e pela jornalista Thaís Passos da Cruz e contou, ainda, com a presença das jornalistas Beatrís Cortellazzi, Gabriela Melo, Mariana Requena e Rosa Cardoso e da advogada Sarah Stievano Consolini.

Roda de conversa “Pesquisa e educação no combate à violência de gênero", foi promovida pela Escola do Legislativo na manhã desta sexta-feira.

Roda de conversa “Pesquisa e educação no combate à violência de gênero", foi promovida pela Escola do Legislativo na manhã desta sexta-feira.

O livro-reportagem Trauma a Termo compila depoimentos de mulheres que sofreram agressões durante o parto.

O livro-reportagem Trauma a Termo compila depoimentos de mulheres que sofreram agressões durante o parto.

A jornalista Rosa Cardoso explicou os diferentes tipos de violência.

A jornalista Rosa Cardoso explicou os diferentes tipos de violência.

Beatrís Cortellazi, também jornalista, é autora do site violência na pele.

Beatrís Cortellazi, também jornalista, é autora do site violência na pele.

A jornalista Gabriela Melo explicou o que caracteriza a violência sexual.

A jornalista Gabriela Melo explicou o que caracteriza a violência sexual.

A advogada Stievano Consolini analisou as causas da violência de gênero.

A advogada Stievano Consolini analisou as causas da violência de gênero.

A jornalista Mariana Requena é autora do livro Trauma a Termo.

A jornalista Mariana Requena é autora do livro Trauma a Termo.
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Debate foi mediado pela advogada Aline Meme Gallo e pela jornalista Thaís Passos da Cruz e contou, ainda, com a presença das jornalistas Beatrís Cortellazzi, Gabriela Melo, Mariana Requena e Rosa Cardoso e da advogada Sarah Stievano Consolini.



Ao contrário do que permeia o imaginário popular, a violência contra a mulher não é um fenômeno recente. O gênero feminino foi, no transcorrer dos anos, condicionado a uma posição hierarquicamente inferior a dos homens. A sociedade patriarcal se apropriou do corpo da mulher, o silenciou, distorceu e o submeteu a inúmeras formas de violação.

A roda de conversa “Pesquisa e educação no combate à violência de gênero", promovida pela Escola do Legislativo na manhã desta sexta-feira (24), buscou evidenciar o quanto as violências físicas, psicológicas e sexuais contra mulheres ainda são frequentes e encontram, nas desigualdades de gênero, raízes sólidas para se firmar. O debate foi mediado pela advogada Aline Meme Gallo e pela jornalista Thaís Passos da Cruz e contou, ainda, com a presença da vereadora Nancy Thame (PV), das jornalistas Beatrís Cortellazzi, Gabriela Melo, Mariana Requena e Rosa Cardoso e da advogada Sarah Stievano Consolini.

Apesar dos avanços sociais, políticos e jurídicos, os índices estatísticos de feminicídio em todo o mundo não param de aumentar. A jornalista Mariana Requena trouxe à discussão as questões que envolvem a violência obstétrica, ainda pouco debatida, e os danosos efeitos causados às parturientes. Para a autora do livro Trauma a Termo, que compila depoimentos de mulheres que sofreram agressões durante o parto, a violência obstétrica é tão intrínseca na sociedade que a sua origem remete às heranças religiosas.

“Na bíblia, depois do primeiro pecado, Deus condena Eva ao parto com dor. Essa ideia foi perpetuada pela igreja católica na idade média, período em que mulheres grávidas eram tidas como ‘impuras’, sendo, inclusive, separadas da família até parir os filhos. Mesmo com o avanço das tecnologias e as descobertas científicas, o sofrimento das mulheres não mudou. A dor de parto é inerente a nós, mas não deveria”, pontuou.

Dados levantados pela Fundação Perseu Abramo indicam que uma em cada quatro mulheres passaram por violência obstétrica no momento do parto ou pré-natal. Caracterizada pela “apropriação do corpo e processos reprodutivos das mulheres pelos profissionais da saúde, através do tratamento desumanizado, abuso de medicação e patologização de processos naturais", a violência obstétrica causa a perda da autonomia e da capacidade das mulheres em decidir livremente sobre seus corpos e sexualidade.  

De acordo com Mariana, o sistema de saúde brasileiro, tanto o público, quanto o privado, ainda adota procedimentos e técnicas invasivas que elevam o sofrimento da mulher. Dentre elas, a prática indiscriminada da episiotomia (corte no períneo para facilitar a passagem do bebê) e a manobra de kristeller (pressão sobre a barriga da gestante para empurrar o bebê no momento do parto).

“Em 2017, o número de cesarianas no Brasil alcançou a marca de 84% na rede privada e 40% no SUS, enquanto o recomendado pela OMS é de apenas 15%. A violência obstétrica começa no consultório, quando medico diz que a anca da paciente é pequena e que ela não vai conseguir parir”, ponderou.

Para a jornalista, o principal caminho para o combate à violência obstétrica é a instrução das mulheres. “A mulher não é informada sobre o que esperar em seu parto, nem sobre formas de diminuição de dor. Se as mulheres tiverem propriedade sobre seus direitos - como o de ter um acompanhante na sala de parto - e sobre os procedimentos pelos quais ela passará, ela terá embasamento para se defender de qualquer forma de violência obstétrica”, afirmou.

Ela acredita, ainda, que a formação dos  profissionais da saúde deve ser mais humana e empática, voltada para, não somente, as necessidade físicas dos pacientes, mas também emocionais.

VIOLÊNCIA DE GÊNERO - A pesquisa "Considerações sobre o feminismo e o Direito Penal no combate à violência de gênero”, fruto de um trabalho de conclusão de curso produzido pela advogada Sarah Stievano Consolini, analisa as causas da violência de gênero, suas formas de manifestação, os motivos que levam mulheres a terem dificuldade em se retirar de relacionamentos abusivos e de que maneira a cultura do estupro valida comportamentos violentos.

“Durante um longo período de tempo, o discurso científico deu suporte para desigualdades gigantescas entre os sexos”, refletiu Sarah. Segundo ela, a socialização para o cumprimento dos papéis sexuais é, na verdade, um processo de criminalização de condutas de um grupo submisso para a manutenção de poder do grupo dominante.

Enquanto o homem é criado para ser agressivo, dominador e provedor, a mulher tem que ser sensível, submissa e vaidosa. “A questão é que ninguém nasce com essas caraterísticas, mas por conta de todo contexto histórico-social torna-se. É justamente esse processo de aculturamento de relações desniveladas que precisamos combater”, disse.

A advogada ressalta que a violência, tão banalizada, ocorre de maneira cíclica e passa por três estágios básicos: acumulação da tensão, explosão e a lua de mel. “Começa com uma discussão e vai escalando até fugir do controle, quando uma agressão física acontece. Logo, chega a fase da lua de mel, quando o agressor se mostra arrependido e passa a agir de maneira amorosa”, explicou Sarah.

A cultura do estupro é o que justifica as agressões e culpabiliza a mulher pelo seu próprio sofrimento. “A violência praticada pelos homens é justificada pela maneira com que as mulheres se comportam. Mas ela estava bêbeda? Que roupa ela estava usando?”, exemplificou a advogada.   

“Estamos falando de uma cultura que normatiza a agressão. Mulher não está segura em lugar nenhum, nem dentro de casa, nem na rua, nem no hospital. Somos ensinadas desde pequenas a como evitar um estupro, mas não vemos ninguém ensinando aos homens e meninos a não estuprarem”, ponderou.   

Embora o movimento feminista tenha começado a ver no direito penal uma ferramenta de conscientização social e um meio de reverter a realidade da dominação do homem sobre a mulher, ele não é, conforme a advogada, a melhor maneira de combater a violência de gênero. “A maioria das mulheres não deseja só a punição do seu companheiro, mas sim sua reabilitação e viver uma vida sem violência. A punição de atitudes resultantes de um sistema machista não é suficiente para eliminação da desigualdade de gênero”, afirmou.

TIPOS DE VIOLÊNCIA - As jornalistas Rosa Cardoso, Gabriela Melo e Beatrís Cortellazzi apresentaram o site violencianapele.com, também resultado de um trabalho de conclusão de curso, com relatos, em formato literário, de seis mulheres que sofreram agressões em ambiente doméstico. “Mesmo com tantas leis e avanços, inclusive com a Lei Maria da Penha, considerada uma das mais avançadas do mundo, o número de casos de violência ainda são alarmantes”, alertaram.

Elas explicaram que a violência psicológica é entendida como qualquer conduta que cause “dano emocional e diminuição da autoestima” ou “prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar ações, comportamentos, crenças e decisões”, enquanto a sexual trata-se de qualquer conduta que constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada mediante intimidação, ameaça coação ou uso da força.

A patrimonial caracteriza-se como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades. A violência moral, qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria e a física, entendida como qualquer conduta que ofenda a integridade ou saúde corporal da mulher.

Elas defendem que ainda há muito a ser conquistado pelo movimento feminista, inerente ao dos direitos humanos, e que é preciso encontrar instrumentos efetivos na promulgação da cidadania e dos direitos das mulheres.

COMO DENUNCIAR
Os números para fazer as denúncias de violência são: 190 - Policia Militar; 153 - Guarda Civil Municipal. Aplicativo, site e chat: em situações em que a vítima está constantemente na presença do agressor, como no isolamento social, a indicação é que use mecanismos que não precisam de verbalização pelo aplicativo, site ou chat da Policia Civil. Qualquer pessoa pode usar um dos canais disponíveis e não precisa se identificar, mas é importante saber identificar a vítima, o agressor e o endereço onde as agressões estão ocorrendo.



Texto:  Raquel Soares


Escola do Legislativo

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