Sara, de 15 anos, quis saber por que, em vez de talheres, se usam hashis em refeições de comida japonesa. A pergunta foi direcionada ao vereador Pedro Kawai (PSDB) durante bate-papo na Escola Estadual "Monsenhor Jeronymo Gallo", na tarde desta quarta-feira (14).

O interesse pelo tema, segundo a aluna do 2º ano do ensino médio, é motivado por laços familiares. "Meu bisavô é japonês. Gosto de saber sobre os costumes de lá", contou Sara Deus Lima, de sobrenome bem brasileiro.

A interação foi a marca da conversa de mais de uma hora do vereador com o grupo de 70 alunos da escola da Vila Rezende. Kawai abordou a história da imigração japonesa ao Brasil e os hábitos da milenar cultura aos estudantes da turma de Sara e de outras duas do 8º ano do ensino fundamental.

Os professores Renan Costa de Negri, de Sociologia, e Kellen Samira Godoy, de História, disseram que o tema é trabalhado em sala de aula de forma interdisciplinar, abrangendo também Geografia. "No 2º ano, discutimos o estrangeiro e os fatores sociais que levam à imigração", exemplificou Renan.

Por sinal, as razões que fizeram os primeiros japoneses a desembarcarem no Brasil 110 anos atrás e em Piracicaba há um século foram comentados por Kawai. A junção de dois fatores principais ––as guerras em que o Japão se envolveu e a promessa de ganhar dinheiro no novo destino–– motivaram a vinda de milhares de pessoas.

A viagem de um continente ao outro, sublinhou Kawai, durava quase 60 dias. Os japoneses que desciam em Santos ––a outra parada em solo brasileiro era em Salvador, na Bahia–– eram acomodados em São Paulo e, depois, deslocados compulsoriamente a cidades do interior paulista, sem poder de escolha.

Empregados sobretudo nas lavouras de café, cuja produção alcançou o auge no início do século 20, os japoneses destacaram-se pela organização e limpeza, embora, como observou Kawai, tenham sido alvos de preconceito por conta do porte físico franzino.

"Surpreenderam com a educação e o respeito ao espaço ao qual estavam chegando. Que nós possamos ter o mesmo discernimento que eles tiveram, com o não preconceito e o respeito aos mais velhos", pontuou o parlamentar.

A formação da colônia em Piracicaba, comentou o vereador, começou com 40 famílias que foram empregadas na Fazenda Pau D'Alho, de Paulo de Moraes, e culminou com a escolha do bairro Paulista como base para se fixarem.

Já a família de Kawai iniciou sua trajetória no Brasil em 1925, com a chegada de Motoitiro, seu avô, que se estabeleceu em Araçatuba e Rancharia, no interior paulista. O primeiro parente a vir a Piracicaba foi Takaaki, tio de Kawai, em 1958.

Para o parlamentar, o desafio dos descendentes, no aniversário de um século da imigração japonesa à cidade, está em mostrar aos mais jovens a contribuição dada pela colônia em áreas como a economia, a produção acadêmica e os costumes.

Ao final da visita, Kawai percorreu a escola e conversou com docentes sobre as atividades desenvolvidas com os estudantes.