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17 DE AGOSTO DE 2017

Dia do Patrimônio Histórico: uma data de (quase) coincidências


Fábio Bragança, diretor do Departamento de Documentação e Arquivo, elenca as conquistas dos últimos anos na Câmara, que se confundem com sua trajetória



EM PIRACICABA (SP)  

Foto: Laura Leite Salvar imagem em alta resolução

Formado em história pela Unimep, Bragança faz 35 anos na mesma data reservada à memória do patrimônio no país



O 17 de agosto é o Dia Nacional do Patrimônio Histórico, comemoração instituída em 1998 e que guarda muita coincidência com a trajetória do historiador Fábio Bragança. Mas, como ele não acredita em coincidências, certamente a data é de comemorar e, ao mesmo tempo, fazer retrospectos.

Desde 2004 na Câmara de Vereadores de Piracicaba, onde ingressou como estagiário, o atual diretor do Departamento de Documentação e Arquivo, de 35 anos, nasceu no mesmo dia reservado à memória do patrimônio no país. E, nos últimos anos, é incansável a sua jornada pela preservação e difusão do acervo histórico da Casa de Leis, o mais antigo da cidade.

Bragança veio para Piracicaba em 2003, para fazer o curso de história na Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba). Nascido em São Paulo, capital, mas morando com a família em Sumaré, conquistou em terras piracicabanas uma vaga no programa Escola da Família, aos fins de semana, o que lhe garantiu o custeio integral dos estudos.

Até que surgiu, em 2004, a oportunidade de estagiar na Câmara, por meio do então diretor do Departamento Legislativo, Evandro Evangelista, atual secretário municipal de Trabalho e Renda. “Ele me chamou e disse: seu estágio será de seis meses”, rememora Bragança, sobre a primeira conversa com Evangelista.

O primeiro local de trabalho na Casa de Leis foi uma sala no subsolo do prédio principal, onde ficava a Biblioteca Jurídica. Bragança ficou responsável pelo levantamento do histórico dos suplentes que assumiram uma cadeira na Câmara a partir de 1948.

Encerrado o período, o ainda estudante levou o resultado do trabalho ao seu diretor que, satisfeito, comunicou o então presidente da Casa, vereador João Manoel dos Santos. Depois disso, teve que apresentar as atividades durante reunião ordinária, a todos os vereadores.

“Mal sabia falar direito e me colocaram no meio do plenário. Foi terrível. Pois, durante a explicação, as folhas da apresentação, que eram em transparência, voaram todas. Aí o senhor João Manoel optou por me manter”, relembra Bragança.

A partir de então, ele estreitou o contato com Guilherme Vitti, responsável pelo arquivo histórico da Câmara. “Foi quando comecei a conhecer e entender o acervo. Aí começou tudo, de fato”, comenta ele, que aproveitou ao máximo a bagagem do seu “tutor”, um dos funcionários mais antigos da Casa.

Bragança concluiu a faculdade em 2006 e foi o próprio Vitti, aos 91 anos, que manifestou o desejo pela sua permanência, ciente de que estava com idade avançada e precisava se aposentar.

“Quando eu estava quase me formando, o Vitti já tinha problemas de saúde, ficava hospitalizado e havia a preocupação de quem desempenharia esse trabalho. Eu sentia que estava sendo preparado para isso, tanto por ele quanto por outros. Acho incrível o respeito da Casa em deixar que ele entendesse qual era o momento de parar. Quando ele decidiu, fui encaminhado para o cargo dele.”

Sem a presença do mestre para lhe orientar nas funções, Bragança procurou aprimoramento, matriculando-se na pós-graduação em Gestão Documental na Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul.

Houve, ainda, a necessidade de conhecer de perto a Lei de Acesso à Informação, de 2011, ligada diretamente às suas funções na Câmara, e de adequar a Câmara às outras legislações existentes no âmbito estadual e federal na proteção do patrimônio documental. “Como instituição pública, seria incoerente que a Câmara não cumprisse o que está na legislação. Comecei a trazer, então, para a direção da Casa, as necessidades.”

Com a criação do Departamento de Documentação e Arquivo, em março de 2015, a escolha do presidente da Câmara, vereador Matheus Erler, foi a de conceder a Bragança a competência de diretor. “Antes disso, formatei um projeto sobre a proteção do acervo legislativo e apresentei no Congresso Nacional de Arquivologia de Santa Maria, em 2014, e ganhei um prêmio”, recorda-se ele, que agora faz o mestrado profissional em administração na Unimep.

Sobre a coincidência (ou não) entre o aniversário e o Dia Nacional do Patrimônio Histórico, Bragança prefere dizer que acredita em sinais. “Tinha que ser assim”, responde. “Nunca imaginei que iria trabalhar numa Câmara e no papel que hoje tenho. Procurei me aprimorar como profissional e me aprofundar nos estudos, sair do bê-á-bá para criar e evoluir”, diz ele, sem deixar de mencionar o apoio dos demais diretores da Casa na compreensão das atividades do departamento, como também a confiança dos presidentes neste período.

ATRIBUIÇÕES – Hoje, o Departamento de Documentação e Arquivo responde pelo Portal da Transparência, SIC (Serviço de Informação ao Cidadão), ouvidoria, recém-implantada, a Escola do Legislativo, criada em 2014 e com atividades permanentes a partir deste ano.

Também está sob a guarda do Departamento as obras de arte que se incorporaram ao acervo da Câmara a partir dos prêmios aquisitivos do Salão de Belas Artes, Salão de Arte Contemporânea e Salão Internacional de Humor de Piracicaba. São feitas ainda as agendas e curadorias das exposições permanentes da Câmara, mensais e realizadas no hall do prédio anexo.

Além disso, o Departamento abriga o Centro de Documentação e Arquivo, que tem a missão de preservar permanentemente o material histórico, encontrar possibilidades de abrigar o que é gerado no dia a dia e tornar a consulta acessível à população.

No que diz respeito ao acervo físico, em papel, antes de ser disponibilizado à população para consulta presencial ou pela internet é preciso que a equipe do Centro siga algumas etapas: catalogação, classificação, higienização, restauro, digitalização e transcrição.

Segundo Bragança, parte do primeiro conjunto de livros atas, de 1822 a 1850, já foi transcrita. O trabalho é indispensável, uma vez que o material está em Português arcaico, hoje de difícil compreensão.

Outra missão da equipe é digitalizar e incluir no sistema on-line o conjunto do que foi gerado no processo legislativo numa fase mais recente, após a redemocratização do país, período que começou em 1948 e vai até a década de 90. Somente desta fase são mais de 2 milhões de páginas de processos.

O Centro iniciará a catalogação das fotografias disponíveis no acervo, boa parte em papel e preto e branco, como também a organização do que foi produzido com a chegada da fotografia digital. Já estão digitalizadas imagens históricas sobre a cidade, de assuntos como colégios, comércios, estações ferroviárias, festas, igrejas, praças, personalidades, rio Piracicaba, ruas antigas, transportes, entre outros.

A equipe também precisa se desdobrar com o acervo da videoteca, incorporado ao Centro no ano passado. A estimativa é que existam 5 mil fitas no formato VHS, da década de 90 aos anos 2000, que se tornaram obsoletas com a chegada das mídias digitais. Há também cerca de 15 mil CD’ s e DVD’s, que possuem vida útil limitada. E, para que tudo isso se torne público, é preciso a aquisição de um storage, equipamento de armazenamento de dados e informações.



Texto:  Rodrigo Alves - MTB 42.583


Legislativo

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