17 DE JULHO DE 2020
Aplicação prática da técnica de Justiça Restaurativa em ambiente escolar foi tema de roda de conversa on-line promovida pela Escola do Legislativo nesta sexta-feira.
Osmar Ventris apresentou o conteúdo em roda de conversa on-line
Defensor da Justiça Restaurativa para a solução de impasses, o advogado e conciliador Osmar Ventris recomendou a adoção da metodologia para a resolução de conflitos no ambiente escolar. O tema foi abordado em roda de conversa on-line promovida na tarde desta sexta-feira (17) pela Escola do Legislativo, da Câmara de Vereadores de Piracicaba.
Ventris disse que o conceito deve ser aplicado tanto entre alunos quanto com o corpo docente, já que práticas de bullying, por exemplo, são verificadas em ambos os grupos. "A Justiça Restaurativa não é um instrumento usado na escola para punir ou dizer como os alunos devem se comportar. É uma filosofia de trabalho, uma cultura da escola, implantada aos poucos, para solucionar conflitos através do diálogo."
Para que a Justiça Restaurativa seja introduzida no dia a dia da escola, o advogado recomendou, primeiro, que haja a capacitação de quem vai trabalhar com a técnica. "Como é vivencial e muito rica, a pessoa vai se conhecer melhor e entender o que se passa com o outro", afirmou, defendendo a "cultura de ouvir com empatia o que o outro tem a dizer".
"A Justiça Restaurativa não tem julgamento. É aprender a trazer para o coração o que o cérebro está processando. É a escuta qualificada, de tentar colocar-se na situação da outra pessoa. Não é aprovar as coisas erradas que ela faz, mas sentir o que está sentindo. Isso é muito importante numa sala de aula", acrescentou, destacando o caráter preventivo da proposta.
Ventris comentou ser comum que o aluno que tira o professor do sério "se comporta assim porque está tendo algum tipo de necessidade não atendida". Ele usou o exemplo de uma estudante que, após perder a avó, passou a agir com agressividade. A aplicação das técnicas de Justiça Restaurativa, com perguntas abertas para deixar a pessoa à vontade sobre o que falar, permitiu a ela "expôr o que estava sentindo".
"Ela teve a oportunidade de pôr para fora aquilo, tinha a necessidade de os outros saberem o que estava sentindo. Não era caso de punição, nada; era um sentimento que estava corroendo ela por dentro. A partir do momento em que a pessoa [que a ouviu] não se impôs, mas compartilhou o momento dela, ela não encontrou solução para aquilo, mas harmonia."
Ventris criticou o fato de que "vivemos uma cultura punitivista, que procura saber que lei foi ferida, o que a pessoa fez de errado e que castigo ela merece". "Na Justiça Restaurativa, você começa a ver aquele ato como um problema que ocorreu. Quando vai buscar a solução, você tira do foco a punição e busca corrigir aquele problema. É um trabalho de resgatar a humanidade que há entre nós por meio do diálogo."
As perguntas "abertas" citadas por Ventris como importantes para estabelecer o diálogo com o indivíduo que se deseja ouvir não devem conter julgamento, frisou. "Nunca comece perguntas com 'Por que'. Quando você usa 'Por que', a outra pessoa fica na defensiva e muitas vezes responde atacando", explicou o advogado, sugerindo como alternativas indagações do tipo "Como você está se sentindo hoje?" e "Gostaria de falar alguma coisa?".
O conteúdo exposto por Ventris —que também é pós-graduado em segurança pública e mediador judicial e extrajudicial— recebeu avaliações positivas do público que interagiu com perguntas e comentários durante a roda de conversa, transmitida pela plataforma virtual Zoom e pelo canal da Escola do Legislativo no YouTube.
Mediadora da apresentação, a vereadora Nancy Thame (PV) elogiou a participação de Ventris, voluntário assíduo de eventos promovidos pela Escola do Legislativo, da qual a parlamentar é diretora. "Ventris nos ajuda a construir uma estrada iluminada. É muito importante neste momento que consigamos refletir sobre tudo isso e produzir ações", comentou.