No cenário nacional das artes gráficas, a caricatura tem papel de relevância há 190 anos e constitui uma rica tradição da cultura tupiniquim. Dos clichês xilográficos à litografia e dos trabalhos em grafite às técnicas tridimensionais, ela ganhou a imprensa ao longo dos séculos e hoje é uma das estrelas também no Salão Internacional de Humor de Piracicaba, que possui desde 2004 o Prêmio Aquisitivo Câmara de Vereadores, criado para valorizar a modalidade artística. No ano em que o evento completa quatro décadas de existência, a Casa de Leis abriga a mostra paralela Caricaturas Premiadas do Salão de Humor, com visitas no hall do prédio anexo até 30 de setembro.

"A qualidade das caricaturas feitas no Brasil é reconhecida no mundo todo e em cada edição do Salão de Piracicaba é possível conferir novas técnicas e tendência em fazer este tipo de humor", avalia o cartunista Eduardo Grosso, diretor do Cedhu Piracicaba (Centro Nacional de Humor Gráfico), órgão da Semac (Secretaria Municipal da Ação Cultural) responsável pela mostra.

A intenção de levar a paralela para o Legislativo foi a de valorizar a instituição, que em junho de 2004 aprovou a lei de autoria da ex-vereadora Aparecida Gregorin Abe, que instituiu o Prêmio Aquisitivo Câmara de Vereadores. Na ocasião, quando o Salão estava na 31ª edição, o premiado foi Sandro Aparecido Perli, de Amparo. Desde então, grandes nomes do humor foram agraciados com o prêmio, caso do cartunista Eduardo Baptistão, em 2006 e 2007, pelos desenhos de Clementina de Jesus e Nando Reis.

Ao todo 31 obras podem ser conferidas no espaço, sob curadoria do historiador da Câmara, Fábio Bragança, ao lado de Fernanda Toledo Eloy. Muitas das caricaturas foram premiadas em edições anteriores à criação do Prêmio pela Câmara e pertencem ao acervo do Centro de Humor.

Figuras internacionais como Hugo Chávez, Barack Obama e Franz Kafka estão retratadas. Também foram incluídas celebridades da música popular brasileira: Chico Buarque, Tim Maia e Emílio Santiago. Há ainda a caricatura do trompetista Louis Armstrong, criada por Bruno Hamzagic, de Taboão da Serra (SP), que conquistou o Prêmio Caricatura em 2012 e o Troféu Zélio de Ouro, principal honraria do Salão.

Gênero que trabalha com a distorção da fisionomia humana, a caricatura também ganhou versões tridimensionais e, especialmente no Prêmio Câmara, duas obras chamam a atenção. A que traz o escritor Ferreira Gullar, premiada em 2011 e produzida por José Valber de Sá Benevides, e a vencedora de 2010, de autoria de Cláudia Kfouri, retratando o casal Frida Kahlo e Diego Rivera.

O diretor do departamento Legislativo da Câmara, Fábio Dionísio, explica que a criação dos prêmios aquisitivos na Câmara é uma forma de contemplar os eventos artísticos na cidade. Além da honraria ao Salão Internacional de Humor, há a aquisição para obras do Salão de Belas Artes e o Salão de Arte Contemporânea. "Participamos ativamente dessas tradicionais mostras, que possuem amplitude nacional e internacional. O acervo, composto por obras de artes de renomados artistas, é incorporado aos ambientes da Casa, sejam corredores, salas de reuniões ou gabinetes", completa Dionísio.

ARTE EGÍPCIA - A origem da caricatura remonta à arte egípcia, conforme destaca o historiador, pesquisador e sociólogo carioca Lucio Muruci, que utiliza o pseudônimo de Luciano Magno no livro História da Caricatura Brasileira - Os Precursores e a Consolidação da Caricatura no Brasil.

No livro, Magno destaca que a caricatura, na antiguidade, era um instrumento de paródia pelos gregos. É de 1223 uma das mais antigas produções que se tem noticia, feita em pergaminho, e que retrata Isaac de Nowich, rico judeu que era donos de terras na Inglaterra.

Linguagem que caracteriza os costumes sociais e políticos, a caricatura foi assim chamada pela primeira vez na Itália, pelos irmãos Carraci, que atuavam na Academia de Bolonha. A palavra é derivada do termo caricare, que significa carregar, exagerar, acentuar ou ainda pequenos retratos carregados.

No Brasil, o marco inaugural ocorre oficialmente em 1837, por meio de Manoel de Araújo Porto-Alegre, que produziu uma serie de estampas para o Jornal do Commercio do Rio de Janeiro.

Mas foi por meio do italiano Ângelo Agostini que ocorreu a revolução do gênero. Em 1869 ele publicou a novela gráfica As Aventuras de Nhô Quim ou Impressões de Uma Viagem à Corte, considerada a primeira historia em quadrinhos do Brasil. Em 1876, fundou a Revista Ilustrada e emprestou seu traço às principais causas políticas do século 19 e à campanha abolicionista.

Artistas contemplados com o Prêmio Aquisitivo Câmara de Vereadores de Piracicaba

2013 | 40º Salão: Pablo Ezequiel Lobato (Argentina), pela caricatura de Freddie Mercury

2012 | 39º Salão: Ulisses Araújo (de Paraíba do Sul/RJ), pela caricatura de Tim Maia

2011 | 38º Salão: José Valber de Sá Benevides (Itapipoca/CE), pela caricatura de Ferreira Gullar

2010 | 37º Salão: Cláudia Kfouri (Ribeirão Preto/SP), pela caricatura-escultura do casal Frida Kahlo e Diego Rivera

2009 | 36º Salão: Omar Figueiroa Turcios (Espanha), pela caricatura de Barack Obama

2008 | 35º Salão: Rômulo Macedo Coutinho (Mogi Guaçu/SP), pela caricatura de Jamelão

2007 | 34º Salão: Eduardo Baptistão (São Paulo), pela caricatura de Nando Reis

2006 | 33º Salão: Eduardo Baptistão (São Paulo), pela caricatura de Clementina de Jesus

2005 | 32º Salão: Luiz Carlos Fernandes (Santo André/SP), pela caricatura de Ferreira Gullar

2004 | 31º Salão: Sandro Aparecido Perli (Amparo/SP)

SERVIÇO – Exposição paralela Caricaturas Premiadas do Salão de Humor, na Câmara de Vereadores de Piracicaba (rua do Rosário, 833, Centro). Visitas até 30 de setembro, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Entrada gratuita. Mais informações: (19) 3404-6500.