18 DE JULHO DE 2019
Transformada num dos símbolos de resistência cultural, a dança reflete o espírito de sobrevivência da cultura africana, de povos que foram escravizados
Batuque de Umbigada poderá ser inserido no Calendário Oficial
Dança que assemelha o movimento do corpo com o axé e a capoeira, tendo como principal função festejar a fertilidade, o Batuque de Umbigada é uma manifestação em que junto à batucada há uma manifestação na qual um homem e uma mulher encostam seus umbigos como parte da coreografia.
A instituição do Dia Municipal do Batuque de Umbigada no Calendário Oficial de Eventos do Município é defendida pelo vereador Marcos Abdala (REP), no projeto de lei 142/2019, em tramitação na Câmara desde o dia 2 de julho e que aguarda pareceres das comissões internas para vir a plenário nas próximas reuniões ordinárias, após o recesso parlamentar. A defesa do projeto é que a data seja comemorada anualmente no dia 24 de junho.
Dança originária da África, trazida ao Brasil pelos navios negreiros, na época da colonização e instalada na região do médio Tietê (Tietê, Porto Feliz, Laranjal, Pereiras, Capivari, Botucatu, Limeira, Piracicaba, Rio Claro, São Pedro, Itú, e Tatuí) é uma manifestação preservada na cidade e transmitida por gerações.
O elemento principal da coreografia é a "umbigada", ou seja, quando o ventre da mulher bate à altura do ventre do homem. Os participantes dão passos laterais arrastados, depois levantam os braços, batendo palmas acima da cabeça, inclinam o corpo para trás e dão vigorosas batidas com os ventres. Esse gesto é repetido ao fim de todos os passos.
A espiritualidade é bem acentuada na dança. Dentro da cultura banto existe a visão de que o umbigo é a nossa primeira boca e o ventre materno a primeira casa. A umbigada celebra o momento único em que eles se tocam, é como uma ode, um agradecimento ao dom da concepção, uma ação rápida e mágica, materializada através da dança.
Na dança são utilizados os seguintes instrumentos: o tambú, uma espécie de tambor feito de tronco oco de árvore; o quinzengue, um tambor mais agudo que faz a marcação rítmica do tambú e nele se apoia; as matracas, que são os paus que batem no tambú do lado oposto do couro e os guaiás, chocalhos de metal em forma de cones ligados.
Todos os instrumentos que levam couro são afinados em uma fogueira, tornando mais mágico e característico o ritual. Em cada parte do Brasil o batuque recebe algumas variações tornando cada vez mais característico esse estilo que deu origem ao tão famoso samba.
Alguns grupos preservam essa tradicional dança fazendo festas e eventos para trazer o povo para essas demonstrações de cultura afrodescendente.
O batuque de umbigada tem uma espiritualidade muito grande. Assim como outras manifestações populares presentes na cultura brasileira é um exemplo vivo de que as festas populares e religiosas traduzem a cultura popular, a linguagem do povo, tudo que vem dele e de sua alma.
"Pode-se dizer que o batuque de umbigada transforma-se num símbolo muito além da sua resistência cultural, exerce a função construtiva de identidade e resistência negra. Em meio a ação opressora que reduz o batuque em objeto e sem qualquer grau de visibilidade na cidade, nota-se que na cultura popular há sempre uma figura fundamental, como a Família Soledade, que exerce um papel de protagonista na preservação e transmissão dos saberes e ensinamentos que organizam a vida social no âmbito dessa manifestação cultural popular. O batuque de umbigada, como a cultura africana em sua totalidade, procura conservar suas raízes culturais, reflete o espírito de um povo e sempre será um dos símbolos de sobrevivência em nosso país", defende o parlamentar na justificativa do projeto.